terça-feira, 24 de agosto de 2010

A LENDA CAÁ - YARI


Dia desses, contei a lenda da erva mate em sala de aula e meus colegas disseram que nunca haviam escutado. O fato é que o mate, o chimarrão, o chima ou chimas (como todo bom portoalegrense) circula pelas mais variadas tribos . Por este motivo resolvi fazer um post que faz referência a esta lenda. Lembrando sempre que este é um dos objetivos do blog, difundir nossas histórias, lendas e costumes para que possamos perpetuá-los...


Conta a lenda que a árvore de onde se colhe a folha para produzir a bebida amarga adorada por tantos gaúchos só surgiu no mundo depois de um pedido muito especial feito a Tupã o grande Deus indígena.

Em algum lugar no meio das coxilhas vivia aquerenciada uma tribo guarani cujo cacique tinha muita fama de valentia, bravura e sabedoria. Outro motivo de orgulho para o cacique era a sua linda e formosa filha, Caá-Yari, muito admirada pelos jovens guerreiros.

Mesmo com tantas razões para ser um homem altivo e feliz, o chefe índio andava triste, pois estava se enveredando pelos caminhos da velhice e tinha medo de ficar sozinho.

Assim, se Caá-Yari casasse com o guerreiro escolhido para se tornar o novo cacique, muitas vezes teria que se ausentar da tribo. Com a filha longe, o velho chefe não sabia se ia agüentar continuar vivendo.

Caá-Yari conhecia as apreensões do pai. E para não magoá-lo, a bela índia amava seu adorado em segredo. A filha zelosa sabia que, só com o pensamento de vê-la longe, o cacique caía numa melancolia danada.

O desprendimento de Caá-Yari era percebido pelo chefe indígena. Sua dor e angústia eram tantas que decidiu procurar Tupã, o deus dos deuses, aquele que costuma ordenar todas as coisas do mundo. O cacique tinha consciência de que não poderia exigir a presença da filha ao seu lado para sempre e pediu a Tupã que lhe escolhesse um companheiro para as horas de solidão.Como forma de atender o pedido, o grande cacique do Céu mostrou ao cacique da Terra uma árvore grande, de folhas verdes. Dessa árvore o chefe índio retiraria, secaria e torraria as folhas, fazendo com elas uma bebida amarga e quente, mas deliciosa. Seria sua companhia para quando ninguém estivesse junto a ele. Para preencher o vazio da saudade. E assim foi criada a erva-mate.

Por ter sido a razão principal do surgimento da erva-mate, Caá-Yari passou a ser a padroeira e protetora dessas árvores.Desde então, a lenda foi sendo contada de geração em geração. Uma história que passou a rechear a prosa nas rodas de chimarrão.

Texto retirado daqui

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Redescobrindo a serra gaúcha 1ª parte

Sem a pretensão de ser um conquistador e nem mesmo um colonizador, resolvi desbravar (junto com minha excelentíssima) o interior da serra gaúcha. Na cidade de Gramado, tão badalada pelos seus restaurantes e lojas (para turistas "estrangeiros" do nosso Brasil grande de Deus), decidimos pegar uma estrada sem rumo certo. A única certeza era a de que estaríamos indo para o lado contrário do centro (e dos turistas). Saímos em uma rua asfaltada, próxima ao pórtico (quem chega/sai) da avenida das hortências, e descemos, descemos, descemos...e descemos. Sempre fazendo curvas e mais curvas sinuosas pelo bairro desconhecido. Não demorou muito para que avistássemos o início do chão batido. E aí a Sil já começou a cantarolar "Chão batido de saibro vermelho..." lembrando da música do Marenco. É impressionante como a paisagem na serra muda em pouquíssimos metros. Logo estávamos sentindo o cheiro de mato e o silêncio, que apenas era quebrado pelo motor do carro e pelo barulho dos pneus no cascalho da estrada. Uns cinco quilometros após pegarmos a estrada de terra, tivemos uma visão daquelas que merecem que o carro seja encostado para que a imagem fique gravada na retina. Era uma propriedade rural, mas que chamava a atenção por dois detalhes: As casas com telhado verde e as pedras empilhadas. Assim que paramos a Sil já saiu "sacando chapa", ou no bom português fazendo umas fotos. Imagina se uma arquiteta que trabalhou com telhado verde e ama a natureza ia ficar dentro do carro. Resolvemos entrar e para conhecer o local e pedir permisso para que registrássemos as imagens. Passamos pela entrada e nada de uma viva alma. Passamos pela casa principal e nada de um vivente aparecer. Passamos ao lado do galpão e vimos uma porta aberta, mas não havia ninguém. Confesso que eu já estava com receio daquilo tudo (pedra empilhada, casa com telhado de mato...), bah deve ser uma daquelas seitas tipo do Jim Jones. Sei lá..."Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay...". Quando passamos o galpão, vi quatro indivíduos vestidos de macacão branco...e pensei "morro, mas morro peleando"!!!!
Que nada. Bota gente bacana. Receosos como todo bom interiorano quando um forasteiro invade as suas terras. Quando explicamos o porque estávamos ali e que achamos tudo muito caprichado e bonito, eles nos deixaram à vontade para explorarmos a chácara e registrar o momento. Andamos pela propriedade e registramos muitas imagens do local. Nos despedimos agradecendo a hospitalidade, mas não antes de perguntar o que eles produziam na propriedade e, é claro, o por que das pedras empilhadas. Eles nos disseram que produziam cogumelos (não , não os de chá) tipo champignon e mostraram como embalavam o fungo em feno úmido para que ele se desenvolvesse. Quanto às pedras, que incrivelmente estavam empilhadas apenas no ponto de equilíbrio, eles brincaram dizendo que enquanto descansam carregam pedras. Na verdade o proprietário falou que aquilo havia começado como uma brincadeira e que se tornara um hoby. Quando pegamos a estrada novamente em direção à colônia, percebemos que em toda a propriedade que passávamos havia pedra empilhada. Inclusive no meio do campo e das árvores. Achamos aquilo meio obsessivo. Na volta, passamos mais uma vez na propriedade para perguntar se ele autorizava que eu mostrasse publicamente as fotos e saber se ele havia empilhado as pedras nos vizinhos. Ele sorriu e disse que era claro que autorizava e que aquelas pedras que vimos, foram empilhadas pelos vizinhos que gostaram da sua arte e reproduziram em suas propriedades.
O nome deste artista (sim porque o que ele faz é uma arte) é Marcos Rossato e a sua propriedade está localizada na Estrada Geral da Linha Ávila, na cidade de Gramado. Lindeiro a sua propriedade existe uma pousada (que não conheci, ainda) chamada Fioreze, que parece ser bem interessante. Quem sabe vai ser minha próxima passada por aquelas paragens...
E continua...