terça-feira, 26 de julho de 2011

CLUBE DA ESQUILA - FICHA 4

Tchê mais uma vez tive a oportuniade de estar presente no Clube da Esquila que é realizado toda a última terça feira do mês no bar Dhomba em Porto Alegre e que se propõe a mesclar música regional com diversos gêneros musicais e assim derrubar barreiras e preconceitos...

Depois de convidar Tonho Crocco (Ultramen), Estevam Tavares (Fresno) e Tambo do Bando, Pirisca Grecco y La Comparsa Elétrica convidaram a gurizada do grupo ERVA BUENA que é composto pelo Rafael Ovídio (Cabo Déco), Zelito Ramos Souza e pelo Fernando Saldanha (Nandico). Os caras deram um brilho ao espetáculo que (sempre) é o Clube da Esquila. Muita poesia na voz inconfundível do Cabo Déco e muita música de raiz com ar contemporâneo... Os caras estão na estrada e pedindo passagem...Vale a pena!!!!!!

Outra boa surpresa foi escutar a grande interprete dos festivais Rosa Maria que nos áureos tempos da Califórnia da Canção Nativa interpretou entre outros temas Canto de Morte de Gaudêncio Sete Luas de autoria de Luiz Coronel e Marco Aurélio Vasconcelos. Rosa Maria estava completando nesta noite 71 anos, mas foi ela quem nos presenteou com três interpretações (uma delas a pedido da filha do grande e saudoso poeta Aparicio da Silva Rillo). Confesso que fiquei muito emocionado com aquela voz que apesar de septuagenária era muito, mas muito forte na sua musicalidade...

Agora é esperar pela 5ª ficha do Clube da Esquila no final do mês de Agosto...Quem será que o Pirisca Grecco trará para fazer parte do clube??? Para ficar por dentro é só acompanhar http://pirisca.wordpress.com

Ah, já ia me esquecendo quem quiser conferir o CD já está nas boas casas do ramo...

quinta-feira, 5 de maio de 2011

AINDA SOBRE EXCLUSÃO...

Um buenas pra quem é de buenas...

Depois de um longo tempo afastado do blog, pois o TCC me tomou boa parte do meu tempo, retorno para falar sobre as repercussões da postagem sobre a exclusão e preconceito...

Só eu sei como rendeu o assunto da dificuldade do meu funcionário abrir uma conta ou mesmo sacar a sua paga do final do mês. Escutei muitas pessoas entendidas de inclusão social, outras de direito, outras de normas de instituições financeiras... enfim de diversas áreas.

É incrível a velocidade com que as noticias se propagam pela WEB. E foi com esta mesma velocidade que dois dias após a publicação do POST (PUTZ, ME ESQUECI QUE AGORA NO RS NÃO PODEMOS USAR ESTRANGEIRISMOS) anterior uma pessoa representando o Banco Itaú entrou em contato comigo. Muito atenciosa ela me escutou e disse que passaria a diante as minhas reivindicações e sugestões. Na verdade eu não havia sugerido nada e sim eu havia afirmado que outras instituições financeiras agem de forma diferente do itaú quando pessoas não alfabetizadas procuram as agências para a abertura de conta.

Eu soube que no BANRISUL quando uma pessoa não alfabetizada quer abrir uma conta corrente basta que ela tenha duas testemunhas para acompanhar a leitura do contrato. Pelo que fiquei sabendo no Bradesco já tem um sistema que faz a leitura das impressões digitais do cliente, pois assim a pessoa que não assina seu nome teria a sua identidade comprovada na ato de um saque ou troca de um cheque.

Após uns 15 dias do primeiro contato a representante do Itaú retornou a ligação para dizer que conseguira que ao menos o meu empregado trocasse o cheque do seu salário e que já entraria em contato com a agencia passando esta autorização. Não fiquei totalmente satisfeito com a decisão do banco, mas já era uma solução para o problema do meu funcionário.
Neste mesmo dia fui até a agência e uma das gerentes pediu para conversar sobre o fato e após uns minutos de conversa eu percebi que ela mantinha a mesma posição de que aquilo não era discriminação ou exclusão e sim uma NORMA INSTITUCIONAL adotada pelo Itaú. Tentei argumentar que uma norma institucional pode causar discriminação/exclusão e que este era o sentimento do meu funcionário. Percebi que aquela conversa não seria produtiva, mas não por culpa da gerente, pois ela estava seguindo as normativas da empresa que representa.

Algumas horas mais tarde recebi uma ligação da mesma representante lá de São Paulo pedindo mil desculpas, pois haviam mudado de idéia e que o meu empregado não poderia nem mesmo sacar um cheque em seu nome. Fiquei extremamente aborrecido com esta promesa não cumprida, mas única forma que tenho de protestar é postando todo o ocorrido aqui no Pelego no Divã.

Mas na verdade o que mais me aborreceu foi o dia em que fui até a agência e o sr. que estava na minha frente foi fazer um saque e a caixa buscou uma almofada de carimbo para que o ancião colocasse seu polegar e transferisse as suas impressões digitais para o comprovante de saque...
Infelizmente não fui atendido pela mesma caixa, mas questionei a menina que me atendeu de como era possível o meu funcionário não poder sacar um cheque nominal a ele com "assinatura" de suas digitais e aquele senhor podia. A resposta foi de que ele estava sacando seu benefício (acredito que INSS) e provavelmente ele seja cliente e por isso seus dados deveriam estar gravados no sistema.
Ora, eu pergunto SE ELE É ANALFABETO COMO ELE É CLIENTE? uma vez que ao meu funcionário foi negado este direito por uma norma institucional. E mais, COMO ELE PODE "ASSINAR" COM O POLEGAR PARA COMPROVAR O SAQUE e o meu funcionário não pode nem sacar um cheque nominal a ele!?
Percebi que nem mesmo as pessoas que trabalham na instituição sabem explicar tais normas e regras que possibilitam que algumas pessoas tenham o direito de exercer sua cidadania e outras nas mesmas condições não possam fazêl-o.

Acredito que as instituições devam rever as suas regras e normativas, pois nada garante que elas não sejam discriminatórias o que não causem exclusão. Em plena era de avanços tecnológicos é inadmissível que um BANCO (que fatura milhões com juros abusivos todos os anos) não invista em tecnologia para atender as pessoas que, por um motivo ou outro, não tiveram a oportunidade ou a possibilidade de concluir sua alfabetização.

Hoje, após meses da primeira postagem as coisas continuam as mesmas. A cada início de mês o meu funcionário tem que pedir para que um colega atrase seu almoço e vá com ele até o banco para poder receber seu salário...infelizmente não vejo, a curto prazo, nenhuma tendência de que estas NORMAS ISTITUCIONAIS mudem.

A pergunta que fica no ar é: E SE ESTE MESMO FUNCIONÁRIO GANHASSE SOZINHO NA MEGASENA... COMO O BANCO IRIA PROCEDER??? será que não deixariam ele movimentar a sua conta?


quinta-feira, 28 de abril de 2011

Exclusão ou Preconceito???

No dia 28/04 aconteceu um fato que me deixou extremamente indignado e desacreditado do "sistema" em que vivemos...
Sou correntista pessoa jurídica e física no ITAÚ(na verdade era do unibanco, mas com estas fusões...) e abri contas para os meus funcionários com a finalidade de facilitar o pagamento deles no final do mês. Vale explicar que meus funcionários são todos de uma classe social BEM desfavorecida, o que dificulta para que eles abram conta em banco ou crediário em loja.
O fato é que há uns dois anos tentei abrir uma conta para um dos meus funcionários, mas parei na burocracia do Itaú, pois o rapaz é analfabeto e teria que ir a um cartório dar procuração a outra pessoa... Ele me confessou que não teria esta possibilidade uma vez que mora sozinho e não tem parente próximo que possa fazer isso por ele...
Bom, acertei com ele que eu pagaria com cheque e ele iria todo o mês até o banco para receber o seu salário...e assim foi e o tempo passou sem que o banco flexibilizasse a abertura de conta para este rapaz... Cabe ressaltar que apesar de analfabeto ele conhece números perfeitamente.
O tempo passou e nunca mais tocamos no assunto até que próximo do seu pagamento o funcionário chama meu sócio e pede para que tentemos mais uma vez a abertura de conta, pois estava difícil receber com cheque todo o mês. Quando questionado sobre qual o motivo da dificuldade para trocar o cheque, ele me disse que todo o mês tinha que conseguir um colega de trabalho para ir até o banco, pois as caixas não pagavam o cheque a ele pelo fato do ter que ser endossado. Foi então que resolvi ligar para a minha agência e verificar a informação.
A menina que me atendeu disse que realmente as caixas não poderiam pagar o cheque a ele, pois documentos acima de 100 reais devem ser assinados no verso e como ele é analfabeto não poderia sacar seu salário. Eu disse a ela que no seu documento de identidade constava seu analfabetismo e que ele assinava com a impressão digital, ma ela disse que ele não poderia sacar seu salário dessa maneira.
Pedi então que ela passasse para o responsável pelos caixas da agência...O rapaz me atendeu e disse que realmente a informação da menina estava correta e que o meu empregado não poderia sacar seus vencimentos sem ser alfabetizado e que isto era uma normativa do banco central. Ele ainda me questionou por que eu não ia até o banco e sacava o dinheiro para o meu empregado... Obviamente solicitei a ele que enviasse esta normativa via email ou fax...

Explico aqui os motivos da minha indignação que inclusive foi da forma com a qual argumei com o representante do banco ITAÚ:

1- O empregado em questão já é excluído socialmente por não saber ler ou escrever e então uma instituição privada o exclui mais ainda quando não o deixa abrir uma conta ou mesmo sacar os vencimentos mensais que são fruto do seu trabalho com o argumento de que como analfabeto ele não pode endossar o cheque com a suas iniciais;
2- Expliquei que o documento que nos confere cidadania plena é a nossa cédula de identidade, que ele possuí juntamente com carteira de trabalho (CTPS) e cadastro de pessoa física (CPF), ou seja, ele é um cidadão recohecido legalmente e com os mesmos direitos dos demais e que o banco lhe tolindo destes direitos;
3- Falei ainda que como um governo, através do Banco Central (conforme dito pelo empregado do ITAÚ), pode não aceitar a digital de uma pessoa analfabeta no VERSO de um cheque sendo que esta mesma pessoa possui todos os outros documentos "assinados" com a digital... Documentos estes como a Carteira de trabalho que lhe proporcionou um emprego...emprego este que teve todos os documentos "assinados" com o dedo, inclusive o do INSS que lhe toma um porcentual do seu salário todo o mês...salário este que ele não consegue receber pois o banco não aceita que ele endosse atrás do cheque que ele recebe como pagamento...

Sendo assim entendo que o mesmo governo que toma um % de INSS todo o mês de um trabalhador analfabeto não lhe pemite (conforme dito pelo funcionário do ITAÚ) sacar com um cheque o fruto do seu trabalho... Se não for isso então é o próprio banco ITAÚ que em pleno século 21, onde falamos de inclusão dos menos favorecidos, está demosntrando que sabe como excluir aqueles que sempre tiveram a margem da sociedade...

Pensemos nas diversas maneiras de inclusão social....ela não se dá apenas por meio de cotas em faculdades ou mesmo através da contratação (obrigatória) de portadores de necessidades especiais...ela é muito mais ampla do que isto e pode ser executada por todos nós.

sábado, 5 de março de 2011

CONSCIÊNCIA E PRESERVAÇÃO...


Buenas meus amigos, reproduzo aqui um texto postado no blog (Enquanto cevo um mate) de uma pessoa que sempre admirei (e agora é público) pelo talento e pela simplicidade... Marcos Almeida Pfeifer é jornalista, apresentador do programa "Motivos de Campo" da rádio da UFRGS (sábados 9:00) e dono de uma das vozes mais impressionantes que já conheci. Pois em uma olhada no seu blog percebi que ele também tem uma preocupação com a preservação ambiental e resolvi reproduzir aqui o seu texto. Apreciem sem moderação...


CAMPO, CULTURA E MEIO-AMBIENTE

Buenas amigos. Este blog tem o compromisso com a cultura do campo da Pampa Sul-Americana.
A cultura, para ser identificada, necessita de elementos que a fundamentem. Uma região, um espaço, um dialeto, uma forma de organização ou produção, por mais primitiva que seja, e deste conjunto de aspectos, nasce num indivíduo, num conjunto de pessoas, ou no povo, uma maneira de expressão, de relação, de manifestação perante um espaço maior e sociedades distintas. Perceber estes traços, é perceber algum tipo de cultura.
Mas antes das culturas, dos símbolos, dos ritos, das instituições, dos homens, estavam a terra, a natureza, os rios, os campos, os oceanos, a Terra intacta. O transcurso da história da humanidade até os tempos atuais, os avanços, retrocessos, guerras, destruição e vida, equilíbrio e desequilíbrio, resultaram da relação positiva ou negativa, do homem com a natureza. As sociedades, os povos, as aldeias que a preservam e têm consciência da sua vitalidade para o planeta, são mais harmoniosas, justas, equilibradas, e ainda podem se distanciar dos radicalismos políticos, tanto na esquerda quanto na direita. Em suma, a preservação do meio ambiente, com base na educação mental, individual e posteriormente coletiva, gerará uma sociedade mais evoluída quanto à consciência, e ao bem-estar físico e espiritual.
Por tudo isso, recomendo o link acima, Alianza del Pastizal, projeto que tem por objetivo a preservação ambiental do bioma Pampa desde a Argentina (onde se originou o projeto), Uruguai, Brasil e Paraguai, visando uma produção sustentável da pecuária e de outras culturas agrícolas que se adaptem ao bioma, e não o contrário. A coordenação da Alianza del Pastizal no Brasil está a cargo do competente e sério Engº Agronomo Rogério Jaworski, formado pela UFRGS, de relevante trabalho junto à preservação do campo nativo da região da Campanha do Rio Grande do Sul e a busca pela produção pecuária sustentável.

Como de costume, abaixo relacionamos um bom video musical, para matearem enquanto os amigos pensam na importância da preservação dos biomas terrestres, nosso caso o Pampa, e os aspectos que resultam de um ecossistema bem cuidado; além de um adequado e justo desenvolvimento econômico, os aspectos sociais e culturais que configuraram o tipo antropológico do gaucho comum das três pátrias (Uruguai, Argentina e Brasil) e pela Pampa num bioma que atravessa a fronteira destes três países, unindo os povos nessa região, sob um luzeiro identificado pela cultura da terra.
Agradeço o usuário (a) do youtube por ter postado estas belezas da terra sureña. Saludos e um bom mate!


quarta-feira, 2 de março de 2011

MANGRULHO

Depois de tantas explicações sobre o porque escolhi o "nick" mangrulho utilizado para algumas páginas e emails da internet, resolvi fazer um post sobre o termo explicando, além do seu significado histórico, o motivo pelo qual fiz esta escolha.


MANGRULHO: De origem espanhola a palavra MANGRULLO, após passar a fronteira da Argentina e do Uruguai, sofreu a influência do português perdendo o duplo L e recebendo o LH. Foi apenas esta mudança que as torres feitas de toras atadas com imbira sofreram, pois o seu objetivo sempre foi o mesmo tanto nas "bandas de allá" como aqui na pampa Riograndense. Durante o período da colonização espanhola nas terras sul americanas, essas torres serviram de observatório para proteção contra os ataques dos índios que habitavam a região. Por favorecer uma visão em 360º o mangrulho passou a ter a função de observatório militar em época de guerra. O Duque de Caxias foi um dos comandantes militares que usou amplamente este recurso durante a guerra do Paraguai, pois não possuía informações sobre o terreno e as planícies não eram favoráveis para que se observasse a posição do inimigo.

Fazendo uma análise vejo que a internet é o nosso mangrulho da modernidade onde podemos observar o mundo que se apresenta diante de uma tela. Através do meu mangrulho observo o que se passa ao meu redor e posso interagir com os fatos apresentados, mas desta vez não para guerrear e sim para aprender cada vez mais com aqueles que observo... Não por acaso escolhi uma profissão que me coloca em uma posição de observador do comportamento alheio...ou alguém discorda que o psicólogo passa boa parte do tempo em seu mangrulho observando o seu paciente?!

Buenas. Fico por aqui mangrulhando o horizonte a espera do próximo post...


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

GANHEI CORAGEM

Em tempo de eleição, segue um bom texto...


"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche.

É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo.

Albert Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos". Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem.

Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro. Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou. Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos. E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre." Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.

Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras. As mentiras são doces; a verdade é amarga. Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!

As coisas mudaram. Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo. O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.

Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquiloque fazem. Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas. Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.

Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia. Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão.

Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras.

O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás. Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar. O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.

O povo, unido, jamais será vencido! Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos. Mas, que posso fazer? Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol.

Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.


De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:

- "Caminhando e cantando e seguindo a canção..."

Isso é tarefa para os artistas e educadores. O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.


Rubem Alves

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A LENDA CAÁ - YARI


Dia desses, contei a lenda da erva mate em sala de aula e meus colegas disseram que nunca haviam escutado. O fato é que o mate, o chimarrão, o chima ou chimas (como todo bom portoalegrense) circula pelas mais variadas tribos . Por este motivo resolvi fazer um post que faz referência a esta lenda. Lembrando sempre que este é um dos objetivos do blog, difundir nossas histórias, lendas e costumes para que possamos perpetuá-los...


Conta a lenda que a árvore de onde se colhe a folha para produzir a bebida amarga adorada por tantos gaúchos só surgiu no mundo depois de um pedido muito especial feito a Tupã o grande Deus indígena.

Em algum lugar no meio das coxilhas vivia aquerenciada uma tribo guarani cujo cacique tinha muita fama de valentia, bravura e sabedoria. Outro motivo de orgulho para o cacique era a sua linda e formosa filha, Caá-Yari, muito admirada pelos jovens guerreiros.

Mesmo com tantas razões para ser um homem altivo e feliz, o chefe índio andava triste, pois estava se enveredando pelos caminhos da velhice e tinha medo de ficar sozinho.

Assim, se Caá-Yari casasse com o guerreiro escolhido para se tornar o novo cacique, muitas vezes teria que se ausentar da tribo. Com a filha longe, o velho chefe não sabia se ia agüentar continuar vivendo.

Caá-Yari conhecia as apreensões do pai. E para não magoá-lo, a bela índia amava seu adorado em segredo. A filha zelosa sabia que, só com o pensamento de vê-la longe, o cacique caía numa melancolia danada.

O desprendimento de Caá-Yari era percebido pelo chefe indígena. Sua dor e angústia eram tantas que decidiu procurar Tupã, o deus dos deuses, aquele que costuma ordenar todas as coisas do mundo. O cacique tinha consciência de que não poderia exigir a presença da filha ao seu lado para sempre e pediu a Tupã que lhe escolhesse um companheiro para as horas de solidão.Como forma de atender o pedido, o grande cacique do Céu mostrou ao cacique da Terra uma árvore grande, de folhas verdes. Dessa árvore o chefe índio retiraria, secaria e torraria as folhas, fazendo com elas uma bebida amarga e quente, mas deliciosa. Seria sua companhia para quando ninguém estivesse junto a ele. Para preencher o vazio da saudade. E assim foi criada a erva-mate.

Por ter sido a razão principal do surgimento da erva-mate, Caá-Yari passou a ser a padroeira e protetora dessas árvores.Desde então, a lenda foi sendo contada de geração em geração. Uma história que passou a rechear a prosa nas rodas de chimarrão.

Texto retirado daqui